sexta-feira, 15 de junho de 2012

Rio+20: Jordy defende taxa ambiental

  
Do Portal PPS
Por William Passos

Vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados e integrante do Núcleo de Sustentabilidade do PPS, Arnaldo Jordy (PA) irá participar da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre na cidade do Rio de Janeiro até o dia 22 de junho.
 
Antes de ir para o evento, o deputado deu uma entrevista para o Portal, onde destacou a importância do encontro - que reúne mais de 100 chefes de Estado - para o futuro do planeta. O parlamentar é um dos defensores da criação de uma taxa mundial para a preservação do meio ambiente. Ele também fala do pacto assumido por pré-candidatos do seu partido por meio do programa “Cidades Sustentáveis”.
   
Portal: O senhor está otimista em relação às negociações entre os países durante a Conferência Rio+20?
 
Arnaldo Jordy: Acho que a Conferência é um evento importante, mesmo com a ausência anunciada de alguns chefes de Estado, acredito que vai produzir avanços nessa compreensão da necessidade de compatibilizar desenvolvimento humano e respeito aos ativos ambientais até porque o Brasil tem uma vantagem comparativa em relação ao resto do mundo por conta da escala destes ativos: água, biodiversidade, matriz energética limpa e recursos naturais em abundância.

Portal: Quais foram os avanços desde a Eco 92?

Jordy: Em relação aos compromissos que foram pactuados no plano das Nações Unidas com relação à redução dos gases de efeito estufa, o aquecimento global e outras medidas de cunho sustentável no sentido de harmonizar o desenvolvimento do planeta com a preservação dos recursos naturais, o Brasil está acima da média internacional. O país avançou. Só que avançou aquém do que poderia. Pelo fato de estar acima da média do cumprimento dos indicadores que foram acordados, o Brasil se colocou numa situação de certo conforto e deixou de exercer um protagonismo ainda maior. Poderia ter um certo papel de comando na transformação de uma matriz produtiva - que é essencialmente de perfil industrial - para um novo conjunto de arranjos produtivos sustentáveis.

Portal: Investir em novos processos e em tecnologias para conciliar desenvolvimento com preservação depende de decisão política, mas também de dinheiro. Com uma crise em curso na Europa, o senhor teme que os países em desenvolvimento como o Brasil são os que arcarão com este papel?

Jordy: Esta questão é uma meia verdade. Está provado e já há indicadores bastante consistentes de que os novos arranjos produtivos das chamadas economias verdes agregam mais valor do que na velha economia. Todas as experiências dos chamados ‘municípios verdes’ dão demonstração de que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e a distribuição de renda melhoram. Enquanto que nas cidades de maior degradação, de antropização, há um grau maior de coincidência com o mapa da miséria, de desemprego e da fome. O problema não é só a falta de dinheiro porque se você pegar os indicadores da Amazônia ou do estado do Pará, onde 400 mil Km2 já estão antropizados e se peguntar: o que foi produzido do ponto de vista da distribuição de renda ou da justiça social? Nada. Os indicadores são trágicos, os piores! Não há relação direta entre agressão ambiental e desenvolvimento humano. A crise dos países europeus e nos Estados Unidos vai criar dificuldades, mas não pode ser entendido como um elemento que interdita a construção e os investimentos em pesquisa e em inovação tecnológica.

Portal: E qual a sua opinião sobre a criação de uma taxa mundial para a preservação do meio ambiente, levando em consideração o nível de emissão de poluentes de cada país?

Jordy: Esta é uma ideia que está crescendo nos países e nos formadores de opinião. Acho que é um caminho, ou seja, os países mais ricos têm que ter uma contribuição de financiamento destes processos até porque as nações mais ricas, em geral, são as mais poluidoras. Está sendo anunciada na Rio+20 a criação de um Fundo que já teve a adesão do Brasil e da China para aportar no financiamento destas iniciativas. É uma boa medida ainda que pequena, modestíssima, mas acho é um caminho que pode ser trilhado.

Portal: O senhor tem uma preocupação especial com o modelo de exploração dos bens naturais na região amazônica que considera “perverso”. Pretende levantar este debate durante a Conferência no Rio?

Jordy: Sem dúvida alguma. Agora, isso não pode ser visto como uma questão só da Amazônia, mas do Brasil. O Brasil é o quarto país no mundo com maior produção de gases de efeito estufa, então 80% disso advém das queimadas na Amazônia. Recentemente, saiu um levantamento que mostra que no ano passado o desmatamento da floresta foi o menor da série histórica. Este desmatamento menor significa 6480km2, o que é quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Não sei se é uma situação para comemorar ou para chorar. Como as queimadas na Amazônia são o principal componente deste pódio brasileiro, temos que mudar o modelo de desenvolvimento na região. A Amazônia representa 62% do território nacional, tem 25 milhões de pessoas que moram lá e a biodiversidade que é a maior do planeta. No entanto, tem uma participação no PIB brasileiro, que é o sexto do planeta, de apenas 7,6%.

Portal: Qual é a alternativa, deputado?

Jordy: Enquanto você não oferecer uma alternativa a este cidadão que está lá no meio do mato, sem escola, sem saúde, sem emprego formal e sem crédito, mas apenas com uma motosserra na mão, tentando extrair sua sobrevivência do único bem natural que ele tem ao seu alcance, que é a madeira, será doutrinarismo querer resolver isso na base do IBAMA, da Polícia Federal ou do Incra. Enquanto não houver um novo desenho produtivo, um conjunto de novas cadeias produtivas, mostrando que a árvore em pé pode valer mais do que ela derrubada, a situação não se resolverá. Agora, isso exige investimento.

Portal: E o que comentar da iniciativa pioneira do PPS que tem incentivado os seus pré-candidatos a prefeito a assinarem o pacto “Cidades Sustentáveis”.

Jordy: O PPS foi o único partido que deliberou no seu Congresso Nacional (realizado em dezembro de 2011) sobre a adesão institucional ao programa Cidades Sustentáveis – que tem um roteiro de indicadores para enfrentar de forma um pouco mais racional esta questão dos desafios urbanos da grandes cidades como o lixo urbano, água potável, transporte urbano e saúde pública. É uma boa iniciativa e outros partidos começam a fazer o mesmo.
 
 

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