sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

ARTIGO - A crise é do desemprego

  
* Arnaldo Jordy
  
Enquanto o governo Temer dedica boa parte da sua energia para conseguir nos tribunais a liberação do nome da deputada Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, para assumir o Ministério do Trabalho, cumprindo assim o compromisso com um aliado, o mundo do trabalho enfrenta preocupações globais que se refletem na crise brasileira. O país fechou o ano de 2017 com saldo negativo de 328.539 vagas apenas em dezembro, na comparação entre demissões e contratações, segundo números do próprio Ministério do Trabalho.
  
Os números do desemprego no último mês do ano, quando normalmente são encerrados muitos contratos temporários, dizimaram o saldo positivo de 2017, que era de 299.633 vagas de janeiro a novembro. Os números do ano passado fecharam em um melancólico saldo negativo de 28 mil vagas de emprego encerradas no país, que continua com cerca de 13 milhões de pessoas sem oportunidade de trabalho formal, uma tragédia que se agravou a partir de 2014, com a má condução da economia pelo governo Dilma e que continua até hoje, com uma economia oscilando entre a recessão e o baixo crescimento.
   
Mesmo assim, os números de 2017 são inegavelmente melhores que os de 2016 e de 2015, quando o país perdeu, respectivamente, 1,5 milhão e 1,3 milhão de vagas, o que não diminui a responsabilidade do próximo ocupante da pasta do Trabalho em enfrentar esse que é o maior desafio da crise brasileira, a falta de trabalho e de condições de subsistência para a população.
   
O mais recente relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT): “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo”, divulgado na segunda-feira, 22, mostra que o desemprego parou de cair no mundo, ficando estabilizado em uma taxa de 5,6% em 2017, que representa 192 milhões de pessoas sem emprego no planeta. Mas essa estabilização do desemprego no mundo, que foi de 5,7% em 2016, se deve principalmente à recuperação da economia nos países desenvolvidos, e ainda é muito menor que o crescimento da força de trabalho nos países em desenvolvimento e emergentes, como o Brasil.
    
De acordo com a OIT, nos países emergentes, um em cada dois trabalhadores está em um emprego vulnerável, e nos países em desenvolvimento, são mais de quatro em cada cinco nessa situação. A OIT também divulgou que as taxas de participação das mulheres no mercado de trabalho permanecem bem abaixo das taxas masculinas. As mulheres também são mais propensas a ter empregos de qualidade inferior e salários mais baixos, por exemplo, no setor de serviços domésticos.
   
O relatório aponta para uma perspectiva de aumento de empregos precários em 2018, entre os quais, os de autônomos, de meio período ou sem vínculo formal, mais comuns nos países pobres. Nos países em desenvolvimento, 75% dos empregos são vulneráveis. Já nos países emergentes, o índice é de 46%. Nos mercados mais ricos, essa taxa cai para 42%. No Brasil, esse tipo de emprego tende a crescer com a flexibilização das relações trabalhistas, que favorece o surgimento de ocupações em tempo parcial, autônomas ou por demanda. Até em países desenvolvidos, esse tipo de trabalho vem crescendo e representa 30% das vagas na Inglaterra, por exemplo.
   
É uma contradição um país que tem a oitava economia do mundo, ainda apresentar marcas graves de trabalho escravo, ter tido a regulamentação do serviço doméstico apenas em 2015, ter 13 milhões de pessoas desesperadas com o desemprego e uma carga tributária exorbitante para o setor produtivo, enquanto o rentismo, o lucro financeiro e as grandes fortunas continuam no paraíso, sem a devida taxação.
   
As mudanças no mercado de trabalho exigem acompanhamento e providências para evitar a precarização. É preciso que as novas formas de relações trabalhistas preservem a dignidade e as condições de remuneração dos trabalhadores. Essa regulação depende em grande parte do Ministério do Trabalho, que, infelizmente, parece não passar de uma moeda de troca para o governo.
     
 
* Arnaldo Jordy é deputado federal, líder do PPS na Câmara
  
  

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

ARTIGO - Falta eficiência nos gastos públicos

   
* Arnaldo Jordy
  
Merece parabéns a atitude da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que mostrou estar vigilante durante o recesso do Judiciário para questionar em Ação Direta de Inconstitucionalidade a dotação orçamentária de R$ 99 milhões para a comunicação institucional da Presidência da República. A Lei 13.528/2017 abriu crédito suplementar no combalido orçamento público para ser usado em campanhas de convencimento na mídia sobre um tema polêmico, a reforma da previdência.
   
A reforma da previdência é um assunto de fato importante, que merece ser discutido com profundidade pela sociedade, de olho no futuro das contas públicas e na sobrevivência do sistema de aposentadorias, mas não é torrando o dinheiro público em campanhas de última hora e conteúdo duvidoso que se vai convencer o cidadão a fazer sacrifícios em nome da economia de gastos, quando o próprio governo toma decisões contraditórias, como a concessão de isenções fiscais até o ano de 2040 às grandes petroleiras internacionais que fazem exploração no Brasil e que podem chegar a R$ 820 bilhões. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu que o valor dessas benesses a empresas transnacionais representa 10% da economia que o governo pretende obter com a reforma da previdência.
    
A população brasileira tem motivos para questionar a reforma da previdência feita por este governo. Como bem apontou Raquel Dodge, a comunicação institucional deve ser estrategicamente direcionada a temas de relevância inquestionável dentro da missão governamental, como a saúde pública, a educação e outros, mas não para promover diretamente a imagem de um governo altamente desgastado, com impopularidade que ultrapassa 80%.
   
Enquanto o governo se preocupa com sua imagem e concede incentivos inacreditáveis ao setor dos combustíveis fósseis em plena vigência do Acordo de Paris, que controla a emissão de gases do efeito estufa, deixa de desenvolver sua própria ciência e tecnologia e permite a fuga de cérebros brasileiros para o exterior, num prejuízo irreparável para o país, que investiu recursos públicos na formação de cientistas e pesquisadores de primeira linha, mas que não tem aqui condições de desenvolver suas pesquisas, seja pelo abandono dos institutos de pesquisa federais, seja pela miséria ou falta de pagamento de bolsas de estudos.
   
Nesta semana, causou escândalo a reportagem do “El País” na qual pesquisadores de instituições públicas que se dedicam a estudos fundamentais, como a descoberta de vacinas contra as doenças causadas pelo aedes aegypt, revelam a falta de materiais básicos para o trabalho. Em 2017, o Ministério da Ciência, Tecnologia sofreu um corte de 44% do orçamento, que caiu de R$ 5,8 bilhões para R$ 3,3 bilhões. A perspectiva é de novo corte este ano.
   
Pesquisadores de centros federais são concursados, recebem altos salários, mas não podem desenvolver suas pesquisas por falta de condições materiais, mostrando todo o desperdício causado pela ineficiência do estado brasileiro. Outros, sem a estabilidade dos cientistas concursados, são facilmente conquistados por centros de pesquisa no exterior, e vão trabalhar em outros países, que sabem valorizar o papel da ciência e a tecnologia no desenvolvimento econômico e bem-estar da população.
   
Essa deve ser a meta que o Brasil deve busca este ano e nos próximos, a da eficiência nos gastos públicos, para que estes atinjam os objetivos propostos, ao invés de escorrerem pelo ralo dos interesses inconfessáveis.
     
  
* Arnaldo Jordy é deputado federal, líder do PPS na Câmara
  
  

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

ARTIGO - Esporte precisa de uma “Lava Jato”

   
* Arnaldo Jordy
  
Depois de cerca de dois anos em prisão domiciliar em um dos endereços mais caros do mundo, seu apartamento de luxo na Trump Tower, em Nova York, o ex-presidente da CBF José Maria Marin foi mandado sem dó nem piedade, aos 85 anos, para o presídio do Brooklyn, o chamado “cadeião” de Nova York, após condenação pela Justiça norte-americana em seis crimes que, juntos, poderão levar a uma pena de 120 anos. Marin foi condenado em júri popular por organização criminosa, fraude financeira e lavagem de dinheiro envolvendo a negociação de direitos da Copa Libertadores e da Copa América.
   
O cartola torna-se, assim, o primeiro dirigente do futebol brasileiro condenado por corrupção, só que fora do país. A pena só será conhecida no início de 2018, mas a justiça determinou o início do cumprimento imediato da sentença de prisão. Aparentemente, nenhum recurso ou indulto, comuns no Brasil, poderá livrar Marin de pagar por sua participação no maior escândalo de corrupção na história do futebol. Só ele teria recebido 6,5 milhões de dólares em propinas.
   
A situação da corrupção no esporte brasileiro é constrangedora. O sucessor de Marin, Marco Polo Del Nero, é acusado pelos mesmos crimes do antecessor e não pode viajar para acompanhar jogos da seleção ou cumprir compromissos internacionais, tendo deixado de participar do sorteio dos grupos da Copa da Rússia, por receito de ser preso, como aconteceu com Marin, detido na Suíça em 2015. Há uma semana, foi suspenso por 90 dias do comando da CBF pelo Comitê de Ética da Fifa. Antes deles, Ricardo Teixeira, que presidiu a CBF por 20 anos, também foi indiciado no “Fifagate”, por integrar quadrilha que teria desviado 15 milhões de euros em receitas do futebol.
   
Pior que os 7 a 1 que o Brasil levou na Copa do Mundo de 2014, na maior humilhação já sofrida pelo escrete canarinho, é a falta de seriedade e respeito da entidade máxima do futebol brasileiro com a paixão do torcedor, que paga caro para sustentar a corrupção dos cartolas e está cada vez mais distante dos estádios por causa da má gestão.
   
No esporte amador, a situação não é diferente, embora em escala menor, como mostram os pífios resultados do Brasil obtidos nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Ambos os eventos realizados no Brasil, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, serviram de repasto para corruptos, que fraudaram licitações de obras e desviaram até ingressos. Felizmente, hoje, muitos deles estão na cadeia, como o ex-presidente da Câmara Henrique Alves e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral. O ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, foi preso em outubro deste ano, sob a suspeita de haver intermediado pagamento de propina para escolha do Rio como sede olímpica.
   
Em outra ocasião, já falei sobre a necessidade de haver maior controle sobre os recursos públicos que são destinados a federações e confederações para custear atletas e incentivar o desporto. São essas entidades amadoras que têm o poder de levar o esporte ao cidadão comum, às crianças e jovens que podem encontrar aí o caminho para a cidadania, para a formação educacional e profissional. Quantos jovens brasileiros poderiam ser atletas de alto desempenho, mas nunca tiveram acesso a uma quadra ou equipamentos esportivos, porque eles não existem em 55% das escolas públicas?
  
Nove entre doze confederações que tiveram suas contas avaliadas pela Controladoria Geral da União (CGU) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) apresentaram problemas de desvio de recursos. Sou relator na Comissão de Esportes da Câmara de um projeto que vai alterar a Lei Agnelo/Piva, para introduzir mecanismos de controle de gestão e incluir atletas profissionais no processo de escolha dos dirigentes dessas confederações. Haverá mudança de regramento, para eliminar vícios como reeleições eternas e falta de prestação de contas de recursos públicos. É preciso modernizar a gestão.
   
Chegou a hora de se fazer uma “Lava Jato” no esporte, para desvendar a trama de tantos desvios no esporte amador e no futebol profissional, que atrasam o desenvolvimento dos atletas e limitam o acesso da população à prática esportiva. O brasileiro quer comemorar vitórias, mas para isso precisa se livrar das práticas que enfraquecem as suas entidades desportivas. 
   
  
* Arnaldo Jordy é deputado federal, líder do PPS na Câmara