sexta-feira, 19 de agosto de 2016

ARTIGO - Um país olímpico começa na educação básica

  
  
* Arnaldo Jordy
   
O Brasil inteiro parou para acompanhar, este mês, a disputa da Olimpíada, que, pela primeira vez, é realizada no Rio de Janeiro, com uma magnífica abertura que encantou a todos. Por um período, o Brasil inteiro está no foco da mídia internacional, que acompanha não só o desenrolar das disputas nos espaços olímpicos, mas também observa com curiosidade os costumes que fazem a identidade do povo brasileiro, assim como também os seus problemas, causados pela desigualdade, que gera violência e assusta os turistas.
   
Os tapumes coloridos ajudam a esconder a pobreza das favelas, mas não escondem os nossos verdadeiros problemas. O espectador que assiste avidamente aos jogos pela televisão, ou nos estádios, lamenta o fraco desempenho atlético dos brasileiros. Uma vez, a cada quatro anos, gostaríamos de ver o esporte brasileiro brilhando, ganhando medalhas e disputando de igual para igual com potências do esporte, como Estados Unidos, China, Rússia e outros.
   
O fato é que o nosso desempenho continua dentro dos padrões brasileiros. Em Londres, 2012, nosso País ficou em 22º lugar, com 17 medalhas, sendo três de ouro. Em Pequim, 2008, ficamos no 23º lugar, com 15 medalhas, sendo três de ouro. No Rio, não deve ser muito diferente. Até esta sexta, 19, estamos em 13º lugar, com 15 medalhas, sendo cinco de ouro.
   
Esse é o nosso padrão de desempenho nos jogos olímpicos. Não poderíamos, de uma hora para outra, passar a abocanhar medalhas em todas as modalidades, ainda que os jogos sejam disputados em nosso país. Milagres não acontecem, ainda que o desempenho individual de alguns atletas seja mesmo extraordinário e nos emocione, como foi o caso das medalhas de Rafaela Silva, no Judô, e de Thiago Braz, no salto com vara. A força de vontade das nossas atletas no futebol feminino também emocionou o Brasil, pelo amor à camisa e dedicação com que jogam. 
   
Assim como eles, há muitos atletas brasileiros que se superam em seu afinco nos treinamentos e são recompensados com a glória olímpica. São casos isolados que só comprovam as nossas debilidades. Não temos trabalho de base, não temos a formação de atletas como política de Estado, não temos a educação atrelada ao esporte, como deveria ser.
   
Um dado alarmante é que no Brasil, 55% das escolas que são construídas pelo poder público não têm sequer uma quadra de esportes. São agrupamentos de salas de aula, sem outros equipamentos para desenvolver a atividade esportiva, assim como não têm laboratórios para a iniciação científica. É no ensino básico que encontramos a raiz dos nossos problemas.
   
O resultado disso é alarmante. Dos 48 milhões de jovens em idade escolar que poderiam estar praticando esportes, só 47% praticam, duas vezes por semana, qualquer modalidade esportiva no Brasil. Esses números são do IBGE e informam que, na Amazônia, o quadro é ainda pior, só 24% dos jovens praticam qualquer modalidade esportiva. 
   
Países com bom desempenho nos jogos têm um processo permanente de formação e valorização dos atletas, que são incentivados a treinar e a desenvolver seu talento desde a infância. No Brasil, o que as forças armadas fazem, incorporando os atletas em suas fileiras, para que tenham a profissão de militar enquanto treinam, deve ser aplaudido, mas é apenas um paliativo. 
   
A formação dos atletas deve vir desde a base, das escolas fundamentais, que selecionariam aqueles com talento para uma vida voltada para o esporte, como fazem a maioria dos países, inclusive alguns infinitamente mais pobres que o Brasil, como Jamaica, Cuba e Quênia, e outros emergentes, como a Rússia. Aí sim, seríamos recompensados na Olimpíada com um desempenho de atletas capaz de orgulhar o Brasil. 
   
O programa Atleta na Escola, do Ministério dos Esportes, a única iniciativa nesse sentido, ainda conseguiu dobrar, em dois anos, entre 2013 e 2015, o número de crianças participantes, de 2 milhões para 4 milhões de crianças. Isso, em um universo de 48 milhões de jovens em idade escolar, ainda é muito pouco. 
   
Pior ainda se observarmos o orçamento do programa Atleta na Escola: escassos 45 milhões de reais por ano. Para se ter uma ideia, somente Pedro Barusco, o ex-gerente da Petrobras apanhado em roubalheira na estatal pela Lava Jato, fez acordo para devolver 350 milhões de reais aos cofres públicos, ou seja, quase oito vezes mais do que é gasto no programa. 
   
Outra iniciativa seria incentivar a participação das mulheres, que, como na política, ainda tem um papel muito pequeno no esporte. A participação feminina, aliás, reflete sua própria inclusão social. 
   
Mas, o mais importante, é a transformação que o esporte seria capaz de proporcionar também na vida daqueles jovens que teriam acesso à prática esportiva, uma alternativa capaz de tirar muitos deles das ruas, das drogas e de um futuro incerto. Precisamos aprender a usar o esporte não só como fonte de orgulho, mas também como instrumento para a transformação social.
   
  
*Arnaldo Jordy é deputado federal pelo PPS/PA.
   
  

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